Na sexta passada, véspera de feriado, sim aquele feriado imenso que só atrapalhou a minha vida e trouxe felicidades para a maioria da população, enfim aquela sexta passada dia 03 de setembro ás 10h marquei encontro com a minha orientadora Cristiane Wosniak na Casa Hoffmann e experimentei novos lugares por conta da dificuldade e demora das autorizações da URBS (aquele orgão que me autoriza ou não a fazer minhas intervenções nos tubos de Curitiba).
O local escolhido do dia foi a passagem subterrânea do Largo da Ordem, famosa Galeria do TUC - Teatro Universitário da Fundação Cultural - por ser perto da Casa Hoffmann, o que facilita em muito minha vida (camarim disponível - coisa inexistente em trabalhos "de" e "na" rua), lugar/espaço de passagem com entradas e saídas de pedestres e fluxo constante. E a sacada da frente da Casa Hoffmann, local sugerido pela minha orientadora.
Chego, me troco, coloco o vestido salmão - sim, ele foi definitivamente escolhido como o figurino deste trabalho, neste momento - faço uma maquiagem simples, coloco o par de sapatos de saltos (eles ainda me incomodam) e saio. Antes, defino com a Cris o trajeto - galeria, cerca de 20 minutos e depois sacada mais uns 15min. e por fim a conversa/orientação.
Então, paro na porta da Casa, respiro bem fundo e caminho em direção a galeria. Lá é gelado e um novo lugar, mais escuro, menos exposto, maior porém mais próximo e íntimo dos passantes. Muitos velhos, velhinhos e menos velhos. Todos lindos e sorridentes ao me ver. "Belo vestido" - "Oh coisa boa começar assim a sexta-feira" - "Você gosta de dançar em moça?" - "Bom dia" e "joia", muitas "joias", elas definitivamente entraram para o meu modo de mover/dançar na rua e o meu outro orientador Luiz Fernando Bongiovanni quando perguntou - "se o gesto casual era a proposta ou ora era mais coreografado o movimento e ora mais casual e porquê? Agora respondo - o movimento/gesto é casual, é aquele que qualquer um pode fazer, é aquele que já tem uma identidade, uma familiaridade com o povo da rua e o gesto do dedo polegar "joia" está neste lugar, assim como o abraço, o tchau, a mão debaixo do queixo para tirar foto, a mão direita no peito e a outra no ar para dançar (a famosa "dançadinha" que o Luiz sugeriu), o balançar do quadril e o bater do pezinho quanto toca uma música envolvente. Essa é a cara do RASTROS. Esse é o meu jeito de dançar neste momento/trabalho. E isso me agrada. Me dá resultados satisfatórios pois desde o momento que decidi pela felicidade, pelo bem-estar, pelo sorriso, pelo suspiro, por uma coisa boa, pela dança enquanto contaminação e aproximação das pessoas, isto vem ocorrendo em cada intervenção e com diferentes idades e me faz ter vontade de fazer- dançar mais e mais e mais...
Depois do bombardeio dos retornos - palavras, risadas, gargalhadas, descobertas, olhares - da galeria, fui para a sacada. Lá, no alto, tive a certeza de que RASTROS é para acontecer na rua, ou melhor, em lugares de passagem de pedestre com entradas e saídas bem definidas. O que me interessa mesmo e faz parte do meu trabalho é o fluxo das pessoas e isso é determinante para meu movimento. RASTROS é mais uma coisa que acontece entre tantas outras coisas, é uma imagem bela, graciosa, despretenciosa, não tem começo nem fim pré-determinado, é mútavel, é expontâneo, dura o momento em que acontece e para acontecer é preciso da troca. Ele é, está lá, ali para ser visto ou não, admirado ou não, é uma opcão.
E na sacada foi dificil mover, é pequeno, apertado, alto, distante. DISTANTE. A aproximidade tão esperada e experimentada ali se perdeu, porém, tenho vontade de experimentar mais, de ousar mais, usar mais aquele espaço deslumbrante que vejo a cidade, o centro, as pessoas, o vai e vem e então vou experimentar mais este novo lugar. A SACADA.
e na MOSTRA DO DIA 15 (QUARTA QUE VEM) RASTROS SERÁ NA SACADA...